O mundo contemporâneo é o do exílio e não o da pátria, o da errância e não o do lugar. Razão pela qual nosso tempo foi denominado de “século breve”, em que os acontecimentos e os desaparecimentos de modos de vida e valores são acelerados, não permitindo o repouso para constituição de uma memória reparadora. Exílio, expatriamento e dispersão espacial são, pois, o emblema das migrações forçadas por guerras, perseguições políticas e diferentes formas de conflito, que produzem a “nostalgia do inteiramente outro” diante da “vida mutilada”. Assim, a diferença entre duas figuras: a da viagem e a da partida, a odisseia e o êxodo, uma que vive no horizonte de um retorno, outra que anseia por uma pátria que não existe mais. A viagem contemporânea para uma terra de exílio tem algo de enigmático, pois populações inteiras atravessam os mares, assombradas pelos naufrágios e pela incerteza da chegada ou do encontro de um não lugar.
Herdeiro problemático de um duplo trauma – o do extermínio dos judeus europeus durante o nazismo e, simultaneamente, o da expulsão dos palestinos de sua terra com a criação do Estado de Israel – Edward Saïd, um dos mais importantes intelectuais palestinos, refletiu sobre a questão da identidade em situações de exílio e estranhamento cultural, procedendo a uma genealogia do sentimento de desorientação, desrealização e perda de si que o exílio produz. Pois se, antes, cada um de nós tem o conforto de paisagens conhecidas, o aconchego do mundo entre os seus, o país estrangeiro representa a passagem do conhecido ao desconhecido, significa o enfrentamento de um incerto acolhimento, com incompreensões, desprezo e hostilidade do lugar a que se chegou. Reunindo, assim, sua formação de scholar em literatura nos Estados Unidos e de musicólogo e pensador geopolítico, Edward Saïd refletiu sobre a construção de um Oriente pelo Ocidente, pelo medium de escritores nos quais há a personagem fantasmada do Outro.
Sobre organizadores
Olgária Matos possui graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1970), mestrado em Filosofia - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1974) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1985). Atualmente é professora titular aposentada da Universidade de São Paulo e professora titular no Departamento de Filosofia da EFLCH-Unifesp. É Coordenadora da Cátedra Edward Saïd (Unifesp). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: tempo, filosofia, razão, democracia e história. (Texto informado pelo autor)
Javier Amadeo possui graduação em Ciência Política, pela Universidade de Buenos Aires (1996) e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (2005), realizou seu pós-doutorado no Departamento de História da Universidade São Paulo (2008-2009), e atualmente é Professor de Teoria Política da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Guarulhos. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Teoria política, atuando principalmente nos seguintes temas: teoria politica moderna e contemporânea, teoria democrática, marxismo e história das ideias.
Adquira a versão em e-book nos principais canais digitais especializados, como: Amazon Kindle, Google Play, Rakuten Kobo
|
Sugestões? Dúvidas? Perguntas? Críticas?
Entre em contato conosco.
A Editora UNIFESP
mais perto de você