Esta obra nos revela um Gilberto Freyre original, em aspectos pouco explorados pela tradição crítica desse autor. Baseado em sua construção da sociedade brasileira como tolerante, cristã e palco de relações harmoniosas, Freyre propõe o Brasil, no cenário das relações internacionais, como uma terceira força cultural, líder da civilização tropical, que poderia servir de exemplo de reconstrução a outras nações no período pós-Segunda Guerra. É em vista dessas ideias que ele foi indicado, em 1945, para o cargo de consultor da onu para os problemas raciais entre brancos e negros na África do Sul.
Para analisar o papel deste sociólogo e de suas teorias no contexto do pós-guerra, Alex Gomes da Silva, de modo habilidoso, valendo-se de farta e qualitativa pesquisa documental, conduz os leitores, de modo crítico, pela trajetória desse intelectual, dos primórdios de sua formação – quando foi estudar nos Estados Unidos e constituiu suas premissas teóricas de modo muito próximo às ideias dos movimentos norte-americanos dos Agrarians, da New Poetry e do Southern Renaissance – até a elaboração mais consolidada de sua ideia da harmonia racial brasileira, calcada no iberismo, que, com seu catolicismo e humanismo cristão, propiciaria a integração – ao invés da segregação – racial. Nesse percurso, analisa-se também a presença do autor no exterior, que resultou no prestígio internacional que alcançou. Além de obra enriquecedora para a compreensão de como se criou e se alimentou a contestada ideia de que o brasileiro é um povo cordial, entre o qual impera a integração e a harmonia racial, temos aqui também um importante instrumento de desconstrução desse mito e de reflexão crítica sobre um tema bastante atual e em pauta: a democracia e as relações raciais na sociedade brasileira, no passado e no presente.
“[…] o leitor poderá acompanhar a importância de Freyre e de suas ideias, especialmente sobre a civilização luso-hispanotropical e o Brasil como ‘terceira força cultural’ no pós-guerra, em um cenário de políticas e de reflexão que, de forma aparentemente paradoxal, consegue fazer coexistir as premissas do iberismo com as consagradas teses sobre a necessidade de inserção do negro na sociedade de classes. […] constatará o ineditismo e também um dos pontos mais importantes da pesquisa de Alex Gomes: a presença de Gilberto Freyre na África, as discussões sobre o apartheid e sobre o processo de descolonização intimamente relacionados à questão racial.”
Elizabeth Cancelli: Professora da Universidade de São Paulo
O autor Alex Gomes da Silva formado em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), com habilitações em Sociologia, Antropologia e Filosofia, e licenciado em Pedagogia. Mestre e Doutor em História pelo Programa de História Social da Universidade de São Paulo (USP). No mestrado, a pesquisa desenvolvida concentrou esforços na investigação do intercâmbio cultural estabelecido entre as ditaduras salazarista e varguista a partir da publicação, em 1941, da Revista Atlântico. No doutorado, o centro investigativo foi conduzido pelo objetivo de verificar como a questão racial foi pensada pelo sociólogo de Apipucos, Gilberto Freyre, durante o pós-guerra. A pesquisa empreendida deteve-se também no estudo do papel do hispanismo e do lusotropicalismo na definição do projeto de civilização arquitetado por Freyre, projeto esse visto como capaz de servir de modelo de civilização alternativo à bipolaridade instaurada com a Guerra Fria. Nesta etapa, a consulta ao Arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, permitiu sistematizar o estudo da importância do legado cultural luso-hispânico na formação intelectual de Freyre. No campo profissional, é professor universitário e pesquisador na área de História e Sociologia, sendo autor da obra Gilberto Freyre no pós-guerra: por um modelo alternativo de civilização (Editora Unifesp). (Texto informado pelo autor)
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